Abertura
Entre a matéria e o esquecimento, resta o sopro.
Um retrato do que se recusa a partir.
Sobre a obra
"Silêncios Habitados" é uma jornada visual através das marcas
que o tempo deixa nas coisas e nos lugares. Esta série explora a
tensão poética entre permanência e dissolução, entre o gesto que cria
e a matéria que resiste.
Das texturas da madeira e do barro às fachadas que guardam memórias,
das portas fechadas que respiram histórias aos corpos em movimento que
se desfazem no ar — cada imagem é um testemunho silencioso de
presenças que habitam o visível e o invisível.
A fotografia aqui não captura apenas formas, mas escuta os ecos: o som
da bateria que vibra no vazio, a palavra inscrita na parede que
resiste ao apagamento, o corpo contemplativo que finalmente
repousa.
É um convite para habitar os silêncios, para perceber que mesmo no
vazio há respiração, e que toda ausência guarda dentro de si uma forma
de presença.
Ato I — A matéria respira
A terra recorda as mãos que a tocaram.
Cada fenda é um sussurro antigo.
O gesto é prece sem voz.
O barro, um corpo à espera do sopro.
A forma aprendeu a calar.
Mesmo com os olhos vendados, ela vê.
Ato II — As casas do tempo
Toda parede é um espelho do tempo.
Há rostos guardados na cal branca.
A noite acende o que o dia esquece.
Entre luz e sombra, alguém ainda arde.
A ausência também tem cor.
Aqui, o vermelho é lembrança acesa.
Toda porta fechada respira histórias.
O silêncio é quem gira a maçaneta.
Ato III — O corpo e o som
Há uma luz que insiste em ficar.
Mesmo a sombra sabe guardar calor.
O corpo toca o tempo.
E o som abre frestas no esquecimento.
Depois do som, vem o vazio.
Mas o ar ainda vibra.
Ato IV — O corpo que se dissolve
Entre um passo e o outro, eu me desfaço.
Sou apenas o rastro entre dois tempos.
O corpo repousa, o olhar escuta.
Agora, o silêncio tem pele.
A palavra resiste onde o corpo não cabe.
Tudo o que foi, ainda fala.
quando me contaram que eu vivo em uma fantasia
quase cai do meu unicórnio...
Epílogo
Entre a matéria e o esquecimento, resta o sopro.
Um retrato do que se recusa a partir.
Fotografia e direção por Carla Padilha
Série realizada em 2025